Manifestação contra o governo, pedindo intervenção militar e lutando contra o comunismo que assola o Brasil bolchavista |
Existe um falso mito no Brasil de que o grau de
politização é proporcional ao de educação formal, que por sua vez, é
proporcional à renda. Ou seja, quanto maior a renda, melhor a escolarização e,
por sua vez, maior o grau de politização. Isso é falso. A renda e a qualidade
da escola podem até fazer a diferença na hora de aplicar o Teorema de
Pitágoras, descrever uma fotossíntese ou calcular os prótons e elétrons, mas tá
longe de formar politicamente um indivíduo.
Está cada vez mais nítido que escolarização não é
sinônimo de politização. É um instrumento para, mas não é sinônimo de. No Brasil, são os mais pobres,
os que vêm do andar de baixo, que, até por necessidade, sempre passaram por uma
educação política maior. Todo o processo de criação e atuação em movimentos,
associações, protestos, sindicados, organizações, etc. exige uma formação
política e uma vivência que faz a pessoa perceber na prática como funciona a
política. A própria atuação política exige a escolha de bandeiras de lutas e um
desgastante processo de discussão e debate. Já os mais ricos, são carentes desse
processo. Estão longe dos espaços de formação política e têm pouca experiência
sobre os meandros da política institucional.
O que mais reforça essa tese é a nossa atual
oposição. Antigamente, a oposição vinha das classes mais populares, em
crescente processo de organização e politização, para lutar por mais direitos e
oportunidades. Hoje, a oposição vem dos setores mais abastados economicamente,
numa luta pela manutenção de seus privilégios. A oposição antigamente defendia
suas bandeiras e seus projetos. Qual é a bandeira e os projetos da atual
oposição, se não fazer uma campanha de ataque ao atual governo?
E nessa cruzada despolitizada, essa oposição revela
suas próprias ignorâncias. Não discute ideias, nem projetos. Muitas vezes não
compreende o funcionamento das instituições e as atribuições de cada uma.
Replica e formula teses e argumentos a partir de notícias falsas ou deturpadas.
Enfim! Basta passar um dia no facebook, para perceber que essa oposição não
traz discussões de projetos políticos; não compreende algumas leis e muito
menos o processo constitucional de formulação e aprovação das leis; não entende
o papel de cada instituição. Apenas replica ataques ao governo, querendo ganhar
no ódio.
Em outras palavras, a cada dia que passa, essa atual
oposição, mais rica e escolarizada, revela sua ignorância e sua inexperiência
política.
Manifestante nacionalista |
No meu tempo de adolescente, saíamos às ruas para
protestar contra o projeto econômico da ALCA, pela soberania do país em relação
aos Estados Unidos; contra a intervenção do FMI, pela autonomia do Estado;
contra as privatizações, pelo fortalecimento das estatais; contra a mídia de
propriedade de políticos e seus familiares, pelo direito à comunicação e
liberdade de expressão; contra a impunidade, pela cassação de políticos
flagrados em corrupção e que só precisavam renunciar para não serem cassados,
além de um Procurador Geral que era conhecido como “Engavetador Geral”; pela Reforma
Agrária; pelo fim do coronelismo, pela democracia.
Ou seja, tínhamos bandeiras de luta. Essas bandeiras
podem até serem questionadas, contrariadas, aliás é justamente isso que aumenta
a formação política da sociedade e fortalece a democracia. Mas, pelo que a
oposição de hoje luta? No seu discurso, apenas pautas genéricas: contra a
corrupção, por mais educação e saúde, contra a violência. Ora, quem aqui não
defende essas mesmas coisas? O que difere os segmentos é o caminho que cada um
escolhe para se chegar a esses objetivos e para quantas e quais pessoas essas
conquistas chegarão. A própria defesa de pautas genéricas, sem discutir as
formas de se chegar lá, já revela a superficialidade do discurso.
No entanto, tudo na vida é um aprendizado. Se a atual
oposição, que é mais rica, escolarizada, ignorante, analfabeta política e
inexperiente do que a do passado recente, não possui um projeto político de
interesse do país, por outro lado vem se organizando e ganhando a guerra de
informação, além de ocupar espaços de política: as ruas, varandas de
condomínios de luxo, que gera mídia e as redes sociais. E, com isso, estão
conseguindo pautar o debate político atual.
Nós, que fomos oposição no passado, poderíamos
continuar sendo oposição ao atual governo. Poderíamos ir às ruas lutar pela
Reforma Política, pelo Direito à Comunicação, pelos Conselhos Populares, pelo
fim do auto de resistência, pela Reforma Agrária, pela taxação de grandes
fortunas, pelo fim do financiamento privado de campanhas, e por tantas outras
bandeiras que nunca brotaram do nada, sempre surgiram do próprio debate, contradição,
atuação, tensão e formação política individual e coletiva. Mas, infelizmente,
temos que acabar fazendo o papel de situação, sem avançar nas principais
reivindicações, pois estamos sendo pautados pela atual oposição.
Já passou da hora de aproveitarmos esse momento
político aparentemente desfavorável e reverter ao nosso favor. Aproveitar a
crise no Legislativo e afastar Eduardo Cunha e Renan Calheiros, retomar o
trabalho de base e pressionar Congresso e Governo para avançar nas políticas de
interesse público, que ampliem direitos e oportunidades para cada vez mais
gente. Ou seja, fazer o que melhor sabemos fazer: debater projetos, formar e se
formar politicamente, se organizar e ir pra luta. E deixem que os carentes de
projetos continuem fazendo o que mais fazem: replicar notícias falsas nas redes
sociais; atacar, ofender e xingar a presidente e o partido do atual governo; e
bater panela na varanda. De preferência com um cabo bem longo.
Revolta do Buzu, Salvador, 2004 |
Sugestões:
Pra todo dia: deixar de ser pautado e começar a
pautar o debate, trazendo bandeiras essenciais, e debatendo nas redes sociais,
com o vizinho, no trabalho, etc. Ou seja, voltar a discutir projetos políticos
para o país, em vez de paralisar o debate para ficar respondendo a provocações
de panelas e impitman.
Pra ontem: se (re)organizar coletivamente em torno de
algumas pautas fundamentais e (re)iniciar o trabalho de base, levando a
discussão de idéias e projetos políticos para dentro das escolas, faculdades,
sindicatos, facebook, poder público, etc.
Pra abril: atos e manifestações pedindo a renúncia de
Renan Calheiros e Eduardo Cunha da presidência do Senado e Câmara, além do
afastamento dos demais investigados no Lava-Jato da Mesa Diretora; e que Gilmar
Mendes desarquive o processo que pede o fim do financiamento privado de
campanha.
e assim a gente continua empurrando o Brasil pra
frente, antes que ele seja empurrado pra trás.
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