As
manifestações que estão ocorrendo em diversas cidades do Brasil, inclusive em
Salvador, é composta majoritariamente por uma turma jovem e de classe média.
Mas isso é um demérito? Não. Muito pelo contrário. Que bom que a classe média
ou até o mais rico do brasileiro esteja nas ruas reivindicando demandas
públicas.
O gigante
acordou? O Brasil saiu da inércia? Não. Não é porque uma parcela da população
está indo às ruas protestar que significa que os brasileiros dormiam ou eram
inertes.
As ruas
foram e serão uma das formas de construir esse país. Mas não é a única. De uma
forma geral, há uma carência do jovem em “contribuir para o
país”. Sobra boa intenção, mas falta um norte, um lugarzinho onde o indivíduo
possa se encaixar e ajudar a construir esse país. É por isso que “ir às ruas” é
a forma que muitos encontram para dizer “bem, fiz a minha parte, não estou na
inércia”. Se tiver uma foto ou vídeo marcante que confirmem essa participação,
melhor ainda. Para alguns, é até uma obrigação participar desses eventos, para
legitimar suas queixas e discursos políticos e não ser só “um ativista de facebook”.
E que bom
que ainda tem gente que enxerga as ruas como uma forma de participação
política.
Mas,
enquanto as manifestações nas ruas são pontuais, a demanda é diária e o
processo é lento. Algumas pessoas podem ter acordado agora, mas muitos já estavam
acordados há muito tempo. Basta ver o histórico do movimento negro em Salvador.
Ou do LGBT. Ou dos que lutam por acessibilidade, pelos direitos dos portadores
de deficiência, por uma mídia democrática, que fiscalizam o Legislativo. E por
aí vai.
Sim, existe
muita coisa acontecendo na cidade. Infelizmente a visibilidade é
desproporcional. Uma manifestação caótica tem mais mídia que um trabalho
contínuo e processual. Uma bala de borracha em um jornalista ou a truculência
policial contra os jovens que estão nas ruas tem mais visibilidade do que a
morte de Carlos Alberto Conceição Júnior. E a culpa não é dos manifestantes e
nem isso deve ser usado para deslegitimar as manifestações e a presença desses
jovens.
Mas, é
importante ter a consciência de que a visibilidade não torna as manifestações
pioneiras, ou porta-vozes da “demanda nacional”. A roda não esta sendo
inventada agora.
Que esse
furor, essa gana dos jovens de contribuir para o país possam durar após as
manifestações. E que cada um encontre o lugar que mais lhe agrade. São diversas
as formas de contribuir para o país. Basta nunca esquecer de que há um PÚBLICO que
é de nossa responsabilidade, e que não é apenas possível, mas também necessário
cedermos um pouco do nosso PRIVADO em nome de uma construção coletiva.
Dessa forma,
você pode mudar o país de diferentes formas. Ocupando partidos políticos;
atuando em sindicatos; sendo um professor que estimule o senso crítico de seus
estudantes; um artista e sua banda, seu poema, seu livro, seu filme; um jornalista
ético; uma ideia; um texto; um debate no facebook; o ciberativismo; um grupo no
seu bairro; um baba; um militante de uma causa; um comerciante que não pensa
apenas em seu lucro; um ato de rua grande ou pequeno, com exposição ou
anonimato; numa campanha eleitoral; numa passeata; no Judiciário; numa festa.
Enfim, há diversas formas de ser político e construir esse país. Não é apenas a
ferramenta em si, mas de que forma você a utiliza.
Basta
encontrar a turma com quem mais se identifica e focar em algo onde você terá
mais energias para dedicar e pronto, você estará sendo um ator político nesse
país. Jamais esquecendo que o processo de (in)formação é necessário e conhecer
a história, a política e nossas instituições, saber como a coisa funciona é
primordial justamente para poder criticá-los. Caso contrário, corre-se o risco
de repetir discursos pré-fabricados do tipo “todo político é ladrão”, “partido
nenhum presta”, “somos nós contra eles”. E tal discurso só alimenta a retórica
de quem quer ver o povo distante do que é público e político.
Boa sorte a
todos os brasileiros – aqueles que já estavam acordados, os que acordaram agora
e os que ainda estão dormindo.
Desorganizando
para se organizar. Organizando para desorganizar! O movimento não tem pauta
específica? Não se preocupe. Deixe o caos tomar conta e vamos ver as novidades
quando a ordem se reestabelecer.
Afinal de
contas, o homem roubado nunca se engana.
Fotos originalmente postadas no site Metro1 e charge assinada por Udan.
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