quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Câmara Municipal de Salvador em 2013


12 de Dezembro. Há exato um ano, os vereadores da Câmara Municipal de Salvador executavam um golpe político, para aprovar, na calada da noite e de forma criminosa, as emendas da Louos e PDDU. Golpe esse que foi revertido, graças à reação da sociedade e do Ministério Público.
Depois desse fatídico episódio, foram 24 caras novas na Câmara. Uma alta renovação, que deixou de fora 17 vereadores não reeleitos. Para o bem geral da cidade, foram derrotados nas urnas a trupe do PMDB (Pedro Godinho, Batista Neves e Sandoval Guimarães); a trupe do PT (Dr. Giovani e Alcindo da Anunciação); e figuras como Téo Senna (PTC), Jorge Jambeiro (PP), Paulo Magalhães Jr. (PSC), dentre outros. Por outro lado, a Câmara se enfraqueceu com as derrotas de Vânia Galvão (PT) e Marta Rodrigues (PT), além de Olívia Santana (PCdoB) que não disputou.


Mudaram as caras, mas a Câmara continua a mesma. Tal como quase todas as casas legislativas do Brasil, a de Salvador se reduz a um balcão de negócios. Ou, mais precisamente, a um gabinete anexo à prefeitura. ACM é o prefeito. O vereador Léo Prates (DEM) é o chefe de gabinete e o presidente da casa, Paulo Câmara (PSDB) é o despachante.
Aquele fundamento básico da Democracia, em que o Legislativo tem que fiscalizar o Executivo non ecsiste! O esquema é outro, vertical. A demanda sai da Prefeitura o vereadores apenas ratificam. Não há debate, muito menos fiscalização. Como exemplo, os projetos de Reforma Tributária e, mais recentemente, a Lei de Diretrizes Orçamentárias e o Plano Plurianual. Tudo vem pronto do Executivo e o Legislativo apenas articula a manobra para que a aprovação saia o mais rápido possível.
E quando as coisas não vão do jeito planejado, não há constrangimento algum em derrubar o quórum. É só lembrar dos dias em que não houve sessão na Câmara, pois os vereadores estavam interessados em blindar o secretário municipal Mauro Ricardo, que está no olho do furacão, acusado de envolvimento ativo no escândalo do Trensalão Tucano. E quando não puderam faltar mais às sessões, votaram e derrubaram o requerimento que convocava o secretário.
Audiências Públicas ocorrem com freqüência, sobretudo puxadas pela Ouvidoria da Câmara. Mas, o que é debatido com a sociedade sensibiliza ou é conhecido pelos vereadores? Qual a eficácia das Audiências, se o conteúdo dos debates são sumariamente ignorados pelos edis? E não só por eles. Há um mês, houve uma audiência puxada pela Ouvidoria, para discutir o processo de licitação do transporte público em Salvador. O Secretário dos Transportes, José Carlos Aleluia, sequer compareceu, desprestigiou o encontro e afirmou que o Movimento Passe Livre é coisa de “gente que não estudou”. Onde estava a Câmara que não se posicionou?

Como se não bastasse a subserviência tendenciosa da Câmara em relação à Prefeitura, o desempenho dos edis é pífio. Ana Rita Tavares (PROS, ex-PV) só legisla para os bichinhos. Se, por um lado tem a virtude de não possuir certos vícios políticos, por outro tem o defeito de legislar de forma segmentada. Tia Eron (PRB) só legisla para sua Igreja. E tome-lhe distribuição de título de concessão pública. Soldado Prisco (PSDB) já conseguiu o que queria – se eleger – e agora curte sossegado sua temporada na Câmara.
Outros, caíram de pára-quedas: Leandro Guerrilha (PSL), Duda Sanches (PSD), Vado (DEM) e J. Carlos Filho (PT). E os mais experientes frustraram as expectativas: Edvaldo Brito (PTB) segue fazendo uma politicagem rasteira, em conluio com a base governista; e o ex-governador Waldir Pires (PT) mostra que não tem mais energia para encarar o mandato.
O “Troféu Melancia na Cabeça” vai para Marcell Moraes (PV). O baixo nível de sua campanha – que funcionou, vale lembrar – continua de forma cada vez mais ridícula. Vale tudo para aparecer. Se não bastasse a poluição visual que pratica, espalhando outdoors e faixas por toda a cidade, ainda se envolve em polêmicas propositais. A tentativa de criminalização das religiões de matriz africana, com um projeto que proibia a utilização de animais para as cerimônias e oferendas religiosas gerou uma reação histórica do povo de santo, com direito a uma cena memorável: Ebomi Nice da Casa Branca dando uma pagação no vereador. Além desse, quando Marcell ameaçou bater em um servidor durante manifestação na Câmara. O vereador também fica marcado por ser acusado de “roubar” projetos de seus colegas. Ou seja, de se dizer autor de projetos que já tinham donos. Entre os que o acusam: Ana Rita Tavares (PROS) e Cláudio Tinoco (DEM), além da deputada Arlete Sampaio (PT-DF) e da presidente da Limpurb, Kátia Alves.

Marcell ainda fica com o bronze na disputa para ver quem puxa mais o saco de ACM III. Léo Prates (DEM) ganha. Mas, é bom tomar cuidado com Joceval Rodrigues (PPS), que é muito mais esperto e experiente.
Mas é do lado da chamada “oposição” que mora o perigo. Carballal (PT) é homem mais perigoso da política baiana. Para subir degraus na carreira política, o vereador há tempos vem costurando fortes articulações. O ex-genro de Carlos Suarez, tem ótimo relacionamento com os segmentos que comportam as maiores máfias de Salvador (e de toda e qualquer cidade): o setor de transportes e as empreiteiras. Ele nunca escondeu suas relações com figuras importantes do empresariado de transportes. E é, também, o vereador que mais recebeu dinheiro de empreiteiras e empresas ligadas à grandes obras, na última eleição. Da Filirent Brasil, que participou de obras como a Via Expressa e a Fonte Nova, Carballal recebeu R$ 130 mil. O que faz a Filirent gostar tanto do vereador, ao pondo de fazer essa pomposa doação para que ele fosse eleito?

O fato é que Carballal posa de oposição, quando a pauta é genérica. Mas, quando mexe com transportes, construção civil e orçamento, o discurso, postura e voto mudam e ele se torna um dos braços direitos da situação. E, como se não bastasse, ainda leva com ele outros colegas petistas, como Lessa, Moisés Rocha e Suíca. Lessa (PT) nunca enganou ninguém, desde quando era do PSDB. Moisés (PT), já vem sambando com Carballal desde o mandato passado. É um importante vereador para parte do movimento social, um braço do movimento negro e, como mesmo define seus colegas “um negão da luta”. Mas, na hora de legislar por toda a Cidade, descumpre a sua função de edil e cede a interesses nebulosos. Já Suíca (PT), segue a mesma linha. No entanto, ainda há tempo do vereador rever suas escolhas políticas e assumir, de fato, aquilo que os eleitores lhe delegaram: uma representação dos movimentos sociais e da juventude. Mas, o poder de sedução de Carballal e sua trupe é tão grande, que cada vez mais os petistas e o próprio PT municipal vêm se afundando.
Isolado, sobra Gilmar Santiago (PT). Atuante, faz jus ao seu papel de “líder da oposição”. Não foi cooptado pelo tentador (e bem remunerado) papel de situação. Segue cumprindo aquilo que todos deveriam fazer: fiscalizar o Executivo e debater os projetos.
É importante também reconhecer a atuação incansável de Aladilce (PCdoB). A sua dedicação ao cargo de vereadora é algo raro, aliás, em qualquer profissão. Que sua energia e bom senso continuem. Toda casa legislativa deveria ter uma Aladilce.

Já o seu colega, Everaldo Augusto (PCdoB) não possui a mesma vitalidade, mas vem cumprindo bem o seu papel de vereador. Também tímido, mas importante para os movimentos sociais e merecedor do cargo que ocupa é Sílvio Humberto (PSB). Igualmente importante, mas mais enérgica está Fabíola Mansur (PSB). Um pouco deslocado, desarticulado e isolado está Hílton Coelho (PSOL). Mas, vem tendo maturidade para dialogar com seus colegas e vem percebendo que não é possível legislar sozinho, é preciso se juntar. O mandato de Hílton, como contraponto a uma politicagem barata que contamina a Câmara é fundamental.
Temos, portanto, o honroso Clube dos Seis (Aladilce, Gilmar, Fabíola, Everaldo, Sílvio e Hílton) x a Turma do Faz-Me Rir, com alguns no meio de campo, patinando pra lá e pra cá.
2013 não acaba tão sombrio como foi o final de 2012 e 2011 na Câmara, mas as expectativas para 2014 não são tão animadoras. Só há uma solução para reverter o jogo: que se somem ao Clube dos Seis os movimentos sociais, o Ministério Público, a mídia alternativa e todos aqueles que ainda acreditam que é possível que o Legislativo seja algo mais que um balcão de negócios. Salvador agradece.

J.C. Kizumba

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Yoga e Mensalão. Sem emoção!?

- pagou a yoga?
- pagui
- tô no celular, não sei se dá pra ler
- ok.
- Texto de militante do pt. Queria um texto sóbrio.
- Jorge nunca foi militante do pt. É de um ser humano consciente falando de um ser humano importante.
- O texto tem emoção de militante. Queria um mais calculista. Chamando para a reflexão dos fatos.
- Seres humanos se emocionam.
- Tipo o seu na candidatura de netinho. Pare de defender ele pq não estou o acusando.
- Oxe, não tô defendendo... tô só explicando. Enfim.
- Rum.Você não quer fazer um?
- Não tenho competência para tal. O assunto é muito complexo para que eu consiga resumir numa leitura fácil e compreensível, além da minha emoção me influenciar. Além de ser inútil. Agora Inês é morta e todos estão presos.
- Bom primeiro parágrafo.
- E também por isso:

Assim sendo, começo pelo segundo parágrafo.

Tentarei ser rápido e objetivo. Dividirei a “fábula do Mensalão” em 3 atos.

1º Ato: O fim.
Dirceu e Genoíno são presos políticos. E são porque o julgamento foi político. A premissa não foi criminal, mas política. Quando o Procurador decide encaminhar e o STF julgar o caso “Mensalão do PT” e deixar o risco de prescrever o “Mensalão do PSDB”, é uma decisão política. Quando não se julga o “Mensalão do DEM”, é uma decisão política. Quando cai no esquecimento os casos “Sivam”, “Sudam”, “Sudene”, “Farra do Proer”, “Grampos telefônicos”, “TRT paulista”, “Calote no Fundef”, “Sanguessugas” e tantos outros escândalos ligados ao PSDB, DEM e sua base aliada, é uma decisão política.

Quando o Jornal Nacional faz uma cobertura espetacular do julgamento, alterando sua própria grade de programação, mas sequer cita a existência do livro “A Privataria Tucana”, na época de seu lançamento, que denuncia os desvios bilionários feitos pelo governo FHC durante a série de privatizações de seu governo, isso é uma decisão política da emissora. Quando apenas a versão dos promotores é amplamente divulgada na grande mídia e o contraditório, a versão dos réus, é abafada, isso é uma decisão política. Quando essa mesma grande mídia repete exaustivamente que o Mensalão do PT foi “o maior escândalo de corrupção da história do país”, mesmo não sendo, mesmo eles sabendo que não foi, isso é uma decisão política.

Portanto, um julgamento político, que envolveu interesses políticos de diversas ordens, e que resultou em condenações e presos políticos.

Créditos: http://latuffcartoons.wordpress.com/2013/11/16/charge-brasil247-genoino-dirceu-pt-e-os-demais-mensaloes/


E a política tem uma característica dualista, maniqueísta, sobretudo no Brasil. O jogo político é polarizado por duas forças: oriundas da direita (PSDB), que participou do Golpe Militar, que se alinhou com o neoliberalismo estadunidense, e que priorizou as elites em detrimento das políticas sociais; e oriundas da esquerda (PT), que lutou contra o Regime Militar, que nasceu da classe trabalhadora e que investiu em políticas sociais.

Esse contexto polarizado faz com que situações políticas resultem em posicionamentos maniqueístas.  Comemorar a condenação política do PT é justamente o que quer os grupos que condenaram o PT justamente por interesses políticos, mesmo que a pessoa não tenha predileção por nenhum partido. Replicar o discurso “PT e PSDB são iguais, eu quero é que políticos corruptos vão para cadeia. Começou no PT, agora vamos aos outros” é pura ingenuidade de quem não conhece como funciona o jogo político. De acreditar que esse caso é o início de uma sequencia, de um ritmo contínuo. Começou no PT e terminou nele. Todos os escândalos que eu citei acima já eram. O único que tem ALGUMA chance de ser julgado é o Mensalão do PSDB. E, SE FOR, não terá o mesmo tratamento jurídico-midiático que o do PT recebeu, resultando em condenações diferenciadas – será (SE OCORRER) um julgamento criminal e não político como foi o do PT.

2º Ato: O Meio.
Todos os Ministros do Supremo têm seus interesses. São seres humanos e todos os seres humanos têm seus interesses. Seja Lewandowski, seja Barbosa. E eles também têm interesses políticos. São, em essência, políticos. Para chegarem ao cargo de ministros do Supremo tiveram que ser muito mais políticos na carreira do que juristas competentes. Basta olhar o currículo de cada um e ver de que forma chegaram ao STF. Essa é uma característica deficiente da nossa estrutura jurídica, não é necessariamente mau-caratismo de A ou de B. Portanto, engana-se quem acredita que os julgamentos políticos no STF são feitos com isenção e imparcialidade. A lei é subjetiva e amplamente interpretativa quando quer. Os interesses de cada ministro é que o conduzem aos artigos legais que mais lhe convém. Se precisar dar dois habeas corpus em menos de 48 horas para Daniel Dantas, como feito por Gilmar Mendes em 2008, se dará e terá brecha legal para tal. Em jogo, os interesses políticos dos ministros e não “o que for mais justo, de acordo com a lei”.



Não sou da área do Direito, mas fica difícil não se intrigar com algumas coisas. Por que Joaquim Barbosa escondeu por tantos anos o processo 2474, que poderia inocentar Henrique Pizzolato, e, quando descoberto, o manteve em segredo de Justiça? Por que os réus foram condenados por peculato, se o suposto recurso desviado era do Visanet, portanto, privado – sendo que a transferência do Banco do Brasil para o Visanet se deu de forma legal? Por que nunca foi provado que o dinheiro que saiu do Visanet nunca foi usado na publicidade declarada? Por que alguns réus foram diretamente julgados pelo Supremo, sem a garantia do direito constitucional de poder recorrer a uma instância superior? Por que o laudo 2828 que não citava Pizzolato como gerenciador dos recursos do Visanet só foi anexado ao processo dois dias depois do acórdão? Por que Pizzolato, que não aparecia nesse laudo foi indiciado e outros três nomes que constavam não foram investigados? E o voto contraditório de Celso de Mello sobre o direito de cassação dos deputados condenados, tendo que simular uma gripe para abafar a contradição de seu voto? E os votos contrários aos embargos infringentes, que possuem respaldo legal? Por que dos 126 nomes citados no relatório preliminar da CPMI dos Correios apenas 40 foram indiciados para a ação penal 470? Seria para poder fazer alusão ao Ali Babá e os 40 ladrões? Se for, faz sentido que os mandatos tenham sido expedidos aceleradamente no simbólico 15 de Novembro, mesmo sem obedecer todos os trâmites que a execução de mandatos exigem e atendendo a agenda e delírio da grande mídia.

E o tal do mensalão realmente existiu? Pelo que consta nos autos, não. Aquela tese de Roberto Jeferson de que parlamentares da base recebiam mesadas mensais (com o perdão da redundância) e daí o apelido “mensalão” nunca foi comprovado. Que houve desvio de recursos públicos, nunca ficou claro. O que se configurou foi a existência de um caixa 2, com dinheiro lavado pelas agências de Marcos Valério e de bancos privados, e que era distribuído para custear campanhas da base. Mas não foi por esse crime que os réus foram julgados. Se o julgamento fosse criminal e não político, talvez tivessem sido e, assim sendo, as penas seriam diferentes das que foram. Mas, por seus interesses, os ministros do STF optaram por caminhos tortuosos, para saciar a “sede de justiça” imposta pela opinião pública a partir da pauta midiática. Ser injusto para parecer justo, não parece muito justo. Isso só alimenta a indignação dos petistas e de muitos não-petistas sobre o julgamento.

Fato é que Dirceu foi condenado sem provas. Durante quase uma década ele teve seus sigilos fiscais, bancários e telefônicos quebrados. Teve quarto de hotel invadido por jornalista da Veja. Passou por uma super-exposição midiática. Foi julgado em várias instâncias. Foi julgado no STF. E nunca encontraram nada que o incriminasse. Isso é fato. Consta nos autos. Mas Joaquim Barbosa tinha interesse em condená-lo. Ele sempre foi mal visto pela grande mídia. Era o alvo preferencial. Seria o candidato presidencial, em vez de Dilma. Por tudo isso, foi demonizado e sofreu linchamento midiático durante anos. Condenar 1 milhão de réus, mas deixa-lo livre seria o mesmo que nada, que terminar em pizza. Portanto, era preciso mandá-lo para a cadeia.



E, para cumprir essa missão, Joaquim Barbosa inventou uma teoria jurídica absurda, nunca antes usada no país e fora da cultura jurídica do resto do mundo: a teoria do domínio do fato, utilizada somente para julgar crimes de guerra. Barbosa importou essa teoria e, covardemente, ainda aplicou de forma errada. O próprio autor da teoria assim considerou – aplicada erroneamente. Julgo covarde, pois o argumento diz “Caro José Dirceu, não há provas de que você sabia ou chefiava o suposto esquema, mas como Ministro da Casa Civil deveria saber o que faziam seus subordinados. Portanto, você é um chefe de quadrilha e vai preso”. Bem, se esse descabido argumento fosse fielmente utilizado, quem deveria ser preso era o Lula, já que o cargo de Ministro da Casa Civil é subordinado ao da Presidência da República.

Mas, nenhum Ministro do STF, em sã consciência faria isso. Primeiro, porque causaria uma instabilidade jurídica inimaginável. Já imaginou se o Ministro do Trabalho se envolve em um esquema ilegal e, pela teoria do domínio do fato, o Presidente da República é preso? Não, não dá para imaginar, pois é inimaginável. Um presidente por mês. Uma eleição por semana. Não há sistema política que funcione. O Estado pararia. Além de não ser justo, pois eu não posso pagar por um crime cometido pelo meu subordinado, a não ser que eu tenha comprovada participação. Quem diz isso é o próprio inventor da teoria, Claus Roxin.

E segundo que Barbosa não teria coragem para prender Lula sob esse argumento. Ninguém é maluco de mexer com o presidente mais bem avaliado da história. Não há grande mídia capaz de impedir uma reação popular. Assim sendo, foi preferível relativizar o argumento jurídico e aplica-lo seletivamente, contrariando o Estado de Direito. Quem pagou o pato: José Dirceu.

3º ATO: O começo.
É possível, numa Democracia representativa, como no Brasil, governar sem Mensalão?

Primeiro, é preciso alinhar esse conceito. Consideremos “Mensalão” como compra de apoio parlamentar. Eu até discordo dessa definição. Traz uma ideia falsa, de que o movimento para ter apoio é sempre do Governo e que os parlamentares, coitados, na falta de alternativa, acabam sendo obrigados a venderem seu voto. Balela! Na prática do jogo político o que funciona é: parlamentares chantagistas, de partidos oportunistas, chantageiam o governo – ou o governante dá algo em troca, ou não receberá o apoio. Essa é a ideologia que rege partidos como PMDB, PSD, PP, PR, PTB, PMN, PRB, PTdoB, PHS, PSC, etc. Não é à toa que deputados revelavam que na época que FHC comprou sua reeleição (outro caso nunca julgado e nem lembrado pela grande mídia, por opção política), os parlamentares “faziam fila para vender seu voto”. Como bem diz um amigo meu, um grande exemplo é o Sarney: “Está há 30 anos no poder e NUNCA foi oposição”.



Retomando a pergunta inicial desse ato, e considerando “Mensalão” como compra de apoio (ou ceder à chantagem) dos parlamentares, reforço: é possível governar sem isso? É possível governar sem distribuir Ministérios para a base; sem alocar indicados em cargos na Caixa, Banco do Brasil, Petrobrás; sem privilegiar emendas parlamentares; sem ratear presidências das comissões; sem revezar pautas na fila de votação; sem trocar favores no Conselho de Ética; sem fazer parcerias com antigos inimigos; sem distribuir o caixa 2 de campanha? Em uma democracia como a nossa isso seria possível?

Você pode ter o melhor plano de governo do mundo, mas se você não tiver maioria no Congresso, nada será implementado. É pragmático, mas ainda não existe nenhuma experiência dentro do modelo democrático similar ao nosso, que tenha superado esse determinismo. Os projetos implantados em países como Uruguai, Argentina, Estados Unidos, Itália, foram feitos dessa forma: com maioria no Congresso. E, para se obter essa maioria, foi necessário fazer acordos, dentro do jogo vigente.

Jogá-lo, portanto, também é uma decisão política. O PT poderia dizer: “sou o partido da ética, não faço esse jogo sujo, de uma política velha”. Mas, em compensação, não seria capaz de executar seu plano de governo que agradou e continua agradando a maioria da população brasileira. Quando Lula, Dirceu, Genoínio e cia, resolvem jogar de acordo com as regras impostas pelo jogo (e que não foram eles que criaram, vale lembrar), eles se tornam os maiores bandidos do país?  A deputada Janira Rocha do PSOL, que recentemente foi pega fazendo Caixa 2 para fundar e financiar seu partido, é uma bandida? Ela jogou, dentro das condições impostas. O caixa 2 que ela fazia era pra subsidiar a campanha de seu partido e não para “roubar dinheiro do povo e pôr no bolso”. Era preferível não fazer, em nome da boa moral, e ser esmagada por outros partidos que recebem milhões de empreiteiras, bancos e empresários? Independente da resposta a esse questionamento, vale frisar que, por mais injusta que sejam as condições, para garantir o funcionamento do Estado de Direito é preciso que quem cometa ilegalidades seja julgado e condenado (pelo crime que cometeu, vale lembrar, e com direitos constitucionais assegurados).

Temos um modelo político que prejudica todos os partidos vindos de bases populares. Ou não se joga o jogo e deixa os partidos que não representam as bases populares se perpetuarem no poder, ou joga, se suja, mas, ao ganhar o jogo, tem a capacidade de fazer mudanças. Talvez o principal problema do PT foi, ao jogar e vencer, se acomodar, ser incorporado pelo próprio jogo e não traçar perspectivas de mudanças. Só que Zé Dirceu, Genoíno e cia não estão pagando o preço por jogarem, mas, justamente, por terem ganhado. No dia que o PSOL ganhar vai acontecer a mesma coisa. PSTU e PCO nunca vão ganhar, pois nunca aceitaram participar do jogo com as regras que aí estão. Pegar em armas um dia também foi criminalizado, mas era o recurso que tinha no jogo da Ditadura. Dirceu e Genoíno eram considerados bandidos naquela época. E, por isso, foram presos. Presos políticos.



Ah, mas “Mensalão” é intrínseco à Democracia? Espero que não. Mas, é bom lembrar que governar cedendo aos interesses particulares de partidos da base, nada mais é que é uma réplica do jogo eleitoral. Começa com o eleitor. Quantos não votam pensando em seus interesses particulares, no seu microambiente, em detrimento do macro, do conjunto da sociedade? O professor que vota em um professor, para defender sua classe; o policial que só vota em policial; o médico que só vota em médico; o rodoviário que só vota em rodoviário: estão defendendo os interesses do conjunto social ou de seus interesses particulares, de classe? E os que votam no vereador que banca festas na comunidade; babas, bolas e coletes para o time; que dão uma ajuda aos desempregados que vão bater no gabinete; que recebem currículos e encaminham para emprego – seus eleitores votam pensando nos interesses do conjunto social ou nos seus interesses particulares?

Essa é uma característica da Democracia. Certa ou errada, ideal ou não, mas existe. Eleitores que estão defendendo apenas seus interesses e obrigando o eleito a atendê-los, caso contrário, perderá seu apoio. Funciona tanto de um eleitor para seu parlamentar, quanto de um parlamentar para um governante: ou me dá algo em troca, ou não terá meu apoio. Chegamos, finalmente, na origem do Mensalão ou do “toma lá, da cá”. E é o PT que é bandido por ter que atender os interesses da base aliada para poder governar e executar seus projetos? Somos todos bandidos?

Pois é isso que consistiu o Mensalão do PT. De todas as formas, o Caixa 2 compartilhado com a base é só mais um instrumento do “mensalão nosso de cada dia”, de ceder à pressão da base. Talvez o único ilegal. Talvez o único que o PT não deveria ter feito. Mas fez. Mas não foi por isso que ele foi julgado – só para novamente lembrar. O Mensalão petista foi apenas um retrato da impossibilidade do PT de superar os vícios do sistema político. Não foi roubo para viver bem. Se alguém se deu bem, foram os parlamentares da base aliada, os empresários envolvidos e provavelmente um ou outro petista que tirou sua comissão, que lucraram com as operações. Mas Dirceu e Genoíno não roubaram dinheiro público para se dar bem. Não queiram compará-los com Maluf, FHC, Sarney, Renan Calheiros. Nem Dirceu, nem Genoíno enriqueceram ilicitamente. Nenhum deles comprou mansão milionária em Miami, como o ministro Joaquim Barbosa, ou se tornaram coronéis latifundiários no Mato Grosso, como Gilmar Mendes. Olha a casa de Genoíno. Olha o modo de vida deles. Eles não são bandidos que cometeram ilegalidades por interesses econômicos particulares. Se participaram do esquema de caixa 2, foi dentro de um propósito político coletivo. Isso não os isenta de pagar pelos crimes (se por eles julgados fossem e tivessem participação comprovada), mas os alivia do sadismo midiático que os taxam como bandidos de mão cheia. Tal como na ditadura, quando cometeram o crime de pegar em armas e se rebelar contra o Estado, não para enriquecer ilicitamente e garantir uma vida confortável, mas foi por uma causa coletiva – ainda que se discorde dos projetos políticos deles, tanto em 64, quanto em 2002.

Agora estão presos novamente. Novamente por julgamentos políticos que atropelaram seus direitos constitucionais. Novamente por participarem de um projeto político coletivo. Novamente colocados na cadeia pelos mesmos grupos de antes. E é isso tudo que justifica os apoios a eles, por parte da sociedade. Pelo papel político social que têm; por nunca enriquecerem ilicitamente; por não serem julgados pelos crimes que cometeram; por sofrerem um julgamento de exceção, sem a garantia de todos direitos assegurados; e por sofrerem um golpe político de grupos que, na impossibilidade de voltar ao poder através do voto popular, apelaram para o tapetão judiciário.



Dirceu e Genoíno são homens que entregaram a vida a um projeto político brasileiro. Conteste o projeto político, isso faz parte da democracia. Eu, por exemplo, contesto diversos pontos desse projeto. Mas antes de votar nas próximas eleições, pense “você está votando por interesses particulares ou pensando no coletivo”? E antes de atirar pedras neles – se é que ainda restaram pedras a serem atiradas – reflita: “quanto tempo de todos os seus anos de vida você dedicou para a construção de um projeto político para o país”? Se você se sentir um merda, não se preocupe, sempre há tempo para fazer algo de útil para a nação. Sempre há tempo de surgirem novos atores políticos para contribuir para a sociedade. Mas, cuidado! Se você incomodar os grupos que historicamente sempre dominaram esse país, você poderá parar atrás das grades e ser odiado por quase toda a sociedade.

PS:
- O que me diz? O que você entendeu? Do que você discorda? Onde eu exagerei?
- hummmm... vou ler seu email agora



- MUITO BOM. Sóbrio, mas lúcido e sem emoção. Dando os dados que as pessoas não sabem
mas se quiserem procurarão saber. Tá longo, mas acho que não tem como ser menos. Sugiro um pequeno adendo no começo que vc só faz no final: “que lutou contra o Regime Militar, que nasceu da classe trabalhadora e que investiu em políticas sociais. (e que se melou no jogo político)”. Sugiro esse parentese.
- Acho que posso ser mal interpretado em alguns pontos. De achar que quis dizer que nesse modelo político vale-tudo e estão certo de fazer.
Mas eu digo que o PT se sujou no jogo em outro parágrafo, pois pra jogar é preciso se sujar, já que as regras encaminham para tal
- Eu sei, mas adiantar que vc acha isso pode fazer com que mais pessoas leiam. Você propõe a participar e uma possível reforma. Pra reformar precisa entender oq não está funcionando e não simplesmente acusar/acuar movido pela paixão nefasta do discurso midiático. Talvez não precise publicar, caso não queira. mas deixe registrado. Coloque no blog. é importante!
-  tá certo. Vou postar no blog, mas não vou nem acompanhar os comentários. Não tenho tempo, nem energia para isso.  A vida é curta demais para perder tempo discutindo com reaça no blog do kizumba.
Viu só o que faço por você!
 pelo País! vc está implicado nessa discussão, não podia se omitir
-  tá bom! vou sair aqui. Nos vemos de noite, então!
- de noite? vou pra yoga
- aff...
 me faz tão bem!
-  :)



domingo, 6 de outubro de 2013

Barril Dobrado!

Nos últimos dias vi algumas pessoas compartilhando e fazendo piada de uma notícia: Igor Kannário se filiando ao PTN e podendo concorrer a um cargo de deputado nas próximas eleições. Para mim a grande piada é justamente um partido como o PTN existir e ainda disputar eleição.


Diferente de Kannário, o PTN não possui discurso político algum. A legenda faz parte do que eu chamo de “partidos chantagistas”, sem programa, sem ideologia e que a única razão de existir é: chantagear quem está no governo. Como os governantes dependem do Legislativo, os vereadores, deputados e senadores desses partidos negociam de forma clara: quer que eu vote a favor de seus projetos? Então me dê algo em troca.

A coisa é tão natural que não se tem nem mais vergonha de se reconhecer isso. No começo do ano, Carlos Muniz (o vereador mais votado de Salvador) ameaçou, sem pudor algum, que o PTN poderia virar oposição ao governo de ACM III, caso o prefeito não fosse mais generoso com o partido. Ou seja, não se avalia projetos ou programas de governo, apenas se torna aliado ou inimigo a partir do valor da oferta.

O PMDB é o maior problema do sistema político brasileiro, nesse sentido. Mas, em Salvador, o principal é o PTN. o partido com maior representatividade na cidade – sim, o eleitor soteropolitano se identifica com ele e por isso fez dele a maior bancada da Câmara.

Já Kannário, talvez seja a principal voz de um fenômeno que há alguns anos vem transformado o perfil do soteropolitano: a elevação da autoestima do morador da periferia. Sempre foi muito comum o morador ter vergonha de dizer o nome de seu bairro, de onde veio. Hoje, eles sentem orgulho, batem no peito e dizem “eu sou favela”. Essa transformação se deve, sobretudo, ao pagode baiano que, através da música, reforçou o orgulho dos moradores da periferia – algo semelhante à influência do rap nas comunidades de São Paulo.



Diferentemente de bandas como Bailão, Play Way e New Hit que só cantam “baixaria”, Kannário carrega consigo um discurso político. Da sua maneira, da sua perspectiva, mas carrega. Ele canta para e sobre a favela, fomentando o orgulho e auto-reconhecimento. Quando Edcity canta e Kannário ecoa “Você é favela ou é orla?”, ele resume parte de seu discurso. Essa frase samba com o marxismo: a consciência do proletário de que a sociedade é dividida em classes; a necessidade de união da classe trabalhadora; e o enfrentamento. “Favela” passa a ser motivo de orgulho e ser “orla” é motivo de desqualificação.

Esse discurso se materializa durante o carnaval. Os trios de pagode são do povão, a rua é da favela. E o "playboy" que tiver de bobeira, “ocupando” o espaço que não é dele, pode levar um murro gratuitamente. É o tão complexo ódio de classes, sendo simplificado em frações de segundo, com apenas um soco. É a violência que Kannário também canta e, de certa forma, estimula. Marx já previa que a vitória do proletário dependeria da violência, para superar a ordem social vigente. Os “seguidores” de Kannário podem não planejar suas ações dentro dessa perspectiva, mas a reproduz. A união entre os moradores de determinado bairro periférico é uma necessidade de resistência, e a violência contra quem é de fora é uma forma de reagir e ocupar espaços que não lhe são concedidos durante o ano inteiro. É experimentar um pouco do poder que normalmente ele não tem. É responder, de certa forma, a alguns tipos de opressão que ele sofre diariamente.

Kannário e o pagode também resinificaram o conceito de “gueto”. O tornou algo positivo, sinônimo de favela, motivo de orgulho. Isso também incide politicamente, positivamente em alguns aspectos, mas negativos em outros, como a aceitação da condição de gueto, que implica cada vez mais no isolamento dos bairros periféricos, fechados em si mesmo e, portanto, sem interagir com a cidade e ter acesso a serviços públicos e ao intercâmbio cultural das metrópoles.



Kannário, portanto, é um forte representante político de Salvador e da periferia. Um tipo de política e discurso que cabe julgamento e até contestação. Mas não é isso que o PTN quer dele. O partido quer é a fama do artista para usá-lo para puxar votos nas eleições, eleger o máximo de deputados possíveis e, assim, ter mais poder de barganha na hora de chantagear o próximo governador eleito.

E quem vota nele, provavelmente estará votando no “artista” Kannário e não no ator político. E, caso eleito, ele só se tornaria mais um peão no jogo de xadrez do Legislativo: serviria para votar, de acordo com a orientação do partido, normalmente a favor dos projetos do governo, mesmo que prejudiciais à sua própria “classe”, a quem ele diz representar.


Piada, portanto, é partidos como o PTN existirem e serem criados a cada ano. É ter uma legislação que permite que governos se tornem escravos de parlamentares chantagistas. É ter eleitores votando sem critério, sem informação e sem esclarecimento. Piada é saber que nós, soteropolitanos, concedemos a maior representatividade política de nós mesmos ao PTN. Isso sim é barril!

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Pedido de desculpas

 Na última sexta-feira publicamos o nosso pedido de desculpa por ter apoiado o golpe de 64 e ter ficado ao lado dos militares durante a Ditadura. Diante do apoio recebido por nossos leitores e telespectadores, nos sentimos à vontade para nos desculpar por outros pequenos erros que cometemos durante a nossa brilhante trajetória.



EDITORIAL
03.09.2013

Pedimos desculpas pela fraude contra Leonel Brizola, durante as eleições de 1982. Mas, o que vocês queriam? O Brizola sempre nos chamava de “filhote da Ditadura” e ainda nos humilhou ao fazer o Cid Moreira ler, no Jornal Nacional, aquele direito de resposta em 94. Também temos coração, ficamos magoados. Sabemos que não deveríamos levar para o lado pessoal, mas na época estávamos de mal com o candidato.

Pedimos desculpas por manter no ar durante tanto tempo o Casseta & Planeta, que contribuiu para perpetuar o estigma e preconceito contra nordestinos, gaúchos, negros, homossexuais e mulheres. Já o Zorra Total, realmente não tem perdão.

Pedimos desculpas por sonegar 183 milhões de reais relativo ao contrato de exibição da Copa do Mundo de 2002 e por ainda não pagar a multa de mais de 600 milhões cobrados pela Receita. Foi um erro do nosso contador e ele já foi demitido. Pelos demais casos de sonegação, só iremos nos desculpar se provarem.

Pedimos desculpas pela edição do debate que beneficiou Collor e derrotou o candidato Lula, durante as eleições de 1989. Naquele momento achávamos que um nordestino, barbudo e semi-analfabeto não teria condições de assumir à presidência e por isso resolvemos ajudar o candidato jovem, bonito e que sabia falar inglês. Manipulamos o debate, mas foi na melhor das intenções, sempre pensando no povo brasileiro.

Pedimos desculpas por só exibirmos filmes estadunidenses (ainda que repetidos). Tentamos diariamente encontrar obras produzidas na África, na Europa, na Ásia e na América Latina, inclusive no Brasil, mas só encontramos lixo. Além do que, os filmes produzidos em Hollywood se aproximam muito mais da nossa realidade.

Pedimos desculpas por contratar um perito e dedicar o Jornal Nacional inteiro para tentar provar que a bolinha de papel atirada na cabeça de José Serra era um rolo de fita crepe arremessado por petistas desequilibrados e, assim, tentar prejudicar a então candidata Dilma, durante as eleições de 2010. Vocês podem não acreditar, mas o Bonner sofria bullyng na escola e ao ver o seu colega Serra sendo vítima de uma bolinha de papel, se comoveu e tentou ajudá-lo. Qualquer um faria o mesmo.

Pedimos desculpas pelo fato de que 85% dos personagens das nossas novelas são brancos. É que vocês não sabem o quanto é difícil achar atores negros nesse país de maioria ariana.

Pedimos desculpas por ignorarmos a existência de um dos maiores escândalos de corrupção desse país, denominado de “Privataria Tucana”. Apesar do livro publicado relatar esquemas ilegais envolvendo Fernando Henrique Cardoso, José Serra e a cúpula do PSDB, inclusive apresentando documentos que revelavam o desvio de dinheiro e suborno relacionados às privatizações executadas pelo então presidente FHC, nós nos silenciamos. No entanto, essa omissão é justificada. Na época, todas as acusações foram encaminhadas ao nosso estagiário de Comunicação e ele, por achar o conteúdo irrelevante, não encaminhou aos nossos editores e consequentemente não virou pauta nos nossos jornais e telejornais. O estagiário já foi demitido.

Pedimos desculpas por ainda não ter exibido um beijo entre dois homens nas nossas telenovelas. Além de respeitar a moral e os bons costumes da família brasileira, somos solidários e deixamos para que o Silvio Santos possa ser o pioneiro.

Pedimos desculpas por não noticiar o Pan-Americano de 2011. É que nossos editores não assistem a Record e por isso não sabiam que o evento esportivo mais importante das Américas estava acontecendo.

Pedimos desculpas por manter no nosso quadro o Arnaldo Jabor, o William Wack, o Pedro Bial e o Alexandre Garcia. Estamos apenas atendendo ao pedido do nosso fundador que solicitou a permanência deles, deixando registrado em seu testamento,assinado em cartório.

Pedimos desculpas por manter o Ricardo Teixeira como presidente da CBF durante 23 anos. É que dava pena demitir um funcionário com tanto tempo na casa.

Pedimos desculpas aos clubes do Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sul, além de Minas Gerais e Espírito Santo, por só transmitirmos jogos dos times do Rio e São Paulo. Mas, cá pra nós, que mineiro não gosta de ver o Mengão em ação? Que baiano não torce para oParmêra? Que gaúcho não é vascaíno roxo?

Pedimos desculpas por Malhação continuar no ar. Mas, como prova de nossa retratação, na próxima temporada colocaremos uma universitária loira que se apaixona por um cotista (isso se conseguirmos selecionar algum ator negro).

Pedimos desculpas por criminalizar os movimentos sociais. Foi preciso fazer uma autocrítica para, enfim, compreender que o MST, o Movimento dos Sem Teto, o Movimento Negro, as Feministas, os manifestantes nas ruas, dentre outros, não são invasores, baderneiros e vândalos por que querem. Coitados. Eles apenas não tiveram oportunidades na vida.

Pedimos desculpas por ceder a TV Bahia ao então Ministro das Comunicações Antônio Carlos Magalhães em troca de propina, no que ficou conhecido como “Caso NEC”. Simplesmente achávamos que o Ministro só queria nos agraciar porque gostava da gente. E, por gostarmos dele, também resolvemos presenteá-lo. Ficamos na dúvida se lhe dávamos uma garrafa de whisky escocês ou a emissora. Na época a inflação estava em alta e os produtos importados eram muito caros. Então, demos a TV Bahia.

Por fim, pedimos desculpas por acusar de querer promover a censura todos aqueles que lutam pela democratização e regulamentação da Comunicação. Mas, se coloquem no nosso lugar: se a comunicação for democratizada e, além disso, tivermos que responder pelos nossos erros, como poderemos manter o nosso monopólio e garantir a nossa impunidade?

Após nossos sinceros pedidos desculpas, gostaríamos de contar com a compreensão de todos. E, sobretudo, agradecer a você, que compra nosso jornal e assiste a nossa emissora. Graças à sua audiência, apoio e confiança, continuamos a nossa trajetória vencedora, sempre em 1º lugar, formando a opinião pública e construindo um Brasil melhor a cada dia.


PS – Para doar 20 reais, ligue 0500 2013 020.

quarta-feira, 31 de julho de 2013

Justiça < Mídia = bandidos?

No final de junho uma jovem de 14 anos foi assassinada no Paraná. A mídia repercutiu o caso, houve grande reação popular e poucos dias depois a polícia apresentou quatro suspeitos.
Daí, a mídia os processou, julgou e condenou.
Ora, para que serve o sistema Judiciário, então?

O G1 (Globo) e sua filiada RPC publicaram no dia 26/06: “Corpo de adolescente morta por funcionários de parque é encontrado”. Ou seja, ela afirma que os suspeitos eram os assassinos. Sentenciou.
A Globo, SBT, Band e Record seguiram a mesma linha acusatória. O apresentador Paulo Roberto Galo da Rede Massa (filiada do SBT) perguntou o que fazer com os quatro suspeitos: “Corta? Capa? Mata? Pena de morte?”.
Nas ruas, moradores tentaram linchar os quatro. Na internet, sobram comentários do tipo “mata esse filha da puta”, “não poderia existir cadeia para esses monstros e sim pena de morte”, “quero pena de morte neste paiz”, “vão queimar vivos no inferno esses monstros...Deus console o coração dessas famílias”.

Só que tem um detalhe: mais alguns dias de investigação e atuação da “turma dos Direitos Humanos” revelaram que os quatro foram torturados pela polícia e obrigados a confessar um crime que supostamente não cometeram. Como também o sêmen encontrado nas roupas da vítima não era de nenhum dos suspeitos, eles foram liberados e agora estão refugiados em outro estado, sob proteção à testemunha.
Aí eu pergunto: com que direito a mídia se apropria do poder de processar, julgar e condenar pessoas? Esses foram, a princípio, inocentados. E os tantos em que o processou só julga inocência tempos depois. Que tipo de ressarcimento ao prejuízo de imagem eles têm? Será que algo paga o linchamento midiático que eles sofreram? Quantos suspeitos têm seu rosto exposto pelos noticiários, que nunca mais voltam pra saber se o indivíduo era culpado ou inocente, mas sua exposição como suspeito já foi suficiente para ele ficar negativamente marcado no seu trabalho, cidade ou estado?

É por essas e outras que eu sou contra a pena de morte nesse país e à favor da regulamentação e democratização da comunicação.
E, a título de informação, só nesse caso os “jornalistas” infringiram 8 artigos e 19 parágrafos do Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros, dentre eles: “a produção e a divulgação da informação devem se pautar pela veracidade dos fatos”; “respeitar o direito à intimidade, à privacidade, à honra e à imagem do cidadão”; “usar o jornalismo para incitar a violência, a intolerância, o arbítrio e o crime”.

Por conta dessa cobertura, o deputado federal Dr. Rosinha (PT-PR) deu entrada junto ao Ministério Público Federal e ao MP-PR para investigar os veículos de comunicação envolvidos.

Abaixo, um vídeo publicado pelo próprio deputado, que sintetiza a cobertura, julgamento e sentença executada pela mídia: