Na última sexta-feira publicamos o nosso
pedido de desculpa por ter apoiado o golpe de 64 e ter ficado ao lado dos
militares durante a Ditadura. Diante do apoio recebido por nossos leitores e
telespectadores, nos sentimos à vontade para nos desculpar por outros pequenos
erros que cometemos durante a nossa brilhante trajetória.
EDITORIAL
03.09.2013
Pedimos desculpas pela
fraude contra Leonel Brizola, durante as eleições de 1982. Mas, o que vocês
queriam? O Brizola sempre nos chamava de “filhote da Ditadura” e ainda nos
humilhou ao fazer o Cid Moreira ler, no Jornal Nacional, aquele direito de
resposta em 94. Também temos coração, ficamos magoados. Sabemos que não
deveríamos levar para o lado pessoal, mas na época estávamos de mal com o
candidato.
Pedimos desculpas por
manter no ar durante tanto tempo o Casseta & Planeta, que contribuiu para
perpetuar o estigma e preconceito contra nordestinos, gaúchos, negros,
homossexuais e mulheres. Já o Zorra Total, realmente não tem perdão.
Pedimos desculpas por sonegar 183 milhões de reais relativo ao contrato de exibição da Copa do Mundo de 2002 e por ainda não pagar a multa de mais de 600 milhões cobrados pela Receita. Foi um erro do nosso contador e ele já foi demitido. Pelos demais casos de sonegação, só iremos nos desculpar se provarem.
Pedimos desculpas pela
edição do debate que beneficiou Collor e derrotou o candidato Lula, durante as
eleições de 1989. Naquele momento achávamos que um nordestino, barbudo e
semi-analfabeto não teria condições de assumir à presidência e por isso
resolvemos ajudar o candidato jovem, bonito e que sabia falar inglês.
Manipulamos o debate, mas foi na melhor das intenções, sempre pensando no povo
brasileiro.
Pedimos desculpas por só exibirmos filmes estadunidenses (ainda que repetidos). Tentamos diariamente encontrar obras produzidas na África, na Europa, na Ásia e na América Latina, inclusive no Brasil, mas só encontramos lixo. Além do que, os filmes produzidos em Hollywood se aproximam muito mais da nossa realidade.
Pedimos desculpas por
contratar um perito e dedicar o Jornal Nacional inteiro para tentar provar que
a bolinha de papel atirada na cabeça de José Serra era um rolo de fita crepe arremessado
por petistas desequilibrados e, assim, tentar prejudicar a então candidata
Dilma, durante as eleições de 2010. Vocês podem não acreditar, mas o Bonner
sofria bullyng na escola e ao ver o seu colega Serra sendo vítima de uma
bolinha de papel, se comoveu e tentou ajudá-lo. Qualquer um faria o mesmo.
Pedimos desculpas pelo
fato de que 85% dos personagens das nossas novelas são brancos. É que vocês não
sabem o quanto é difícil achar atores negros nesse país de maioria ariana.
Pedimos desculpas por
ignorarmos a existência de um dos maiores escândalos de corrupção desse país,
denominado de “Privataria Tucana”. Apesar do livro publicado relatar esquemas
ilegais envolvendo Fernando Henrique Cardoso, José Serra e a cúpula do PSDB,
inclusive apresentando documentos que revelavam o desvio de dinheiro e suborno
relacionados às privatizações executadas pelo então presidente FHC, nós nos
silenciamos. No entanto, essa omissão é justificada. Na época, todas as
acusações foram encaminhadas ao nosso estagiário de Comunicação e ele, por
achar o conteúdo irrelevante, não encaminhou aos nossos editores e
consequentemente não virou pauta nos nossos jornais e telejornais. O estagiário
já foi demitido.
Pedimos desculpas por ainda
não ter exibido um beijo entre dois homens nas nossas telenovelas. Além de
respeitar a moral e os bons costumes da família brasileira, somos solidários e
deixamos para que o Silvio Santos possa ser o pioneiro.
Pedimos desculpas por
não noticiar o Pan-Americano de 2011. É que nossos editores não assistem a
Record e por isso não sabiam que o evento esportivo mais importante das
Américas estava acontecendo.
Pedimos desculpas por
manter no nosso quadro o Arnaldo Jabor, o William Wack, o Pedro Bial e o
Alexandre Garcia. Estamos apenas atendendo ao pedido do nosso fundador que
solicitou a permanência deles, deixando registrado em seu testamento,assinado
em cartório.
Pedimos desculpas por
manter o Ricardo Teixeira como presidente da CBF durante 23 anos. É que dava
pena demitir um funcionário com tanto tempo na casa.
Pedimos desculpas aos
clubes do Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sul, além de Minas Gerais e Espírito
Santo, por só transmitirmos jogos dos times do Rio e São Paulo. Mas, cá pra
nós, que mineiro não gosta de ver o Mengão em ação? Que baiano não torce para
oParmêra? Que gaúcho não é vascaíno roxo?
Pedimos desculpas por
Malhação continuar no ar. Mas, como prova de nossa retratação, na próxima
temporada colocaremos uma universitária loira que se apaixona por um cotista
(isso se conseguirmos selecionar algum ator negro).
Pedimos desculpas por
criminalizar os movimentos sociais. Foi preciso fazer uma autocrítica para,
enfim, compreender que o MST, o Movimento dos Sem Teto, o Movimento Negro, as
Feministas, os manifestantes nas ruas, dentre outros, não são invasores,
baderneiros e vândalos por que querem. Coitados. Eles apenas não tiveram
oportunidades na vida.
Pedimos desculpas por
ceder a TV Bahia ao então Ministro das Comunicações Antônio Carlos Magalhães em
troca de propina, no que ficou conhecido como “Caso NEC”. Simplesmente
achávamos que o Ministro só queria nos agraciar porque gostava da gente. E, por
gostarmos dele, também resolvemos presenteá-lo. Ficamos na dúvida se lhe
dávamos uma garrafa de whisky escocês ou a emissora. Na época a inflação estava
em alta e os produtos importados eram muito caros. Então, demos a TV Bahia.
Por fim, pedimos
desculpas por acusar de querer promover a censura todos aqueles que lutam pela
democratização e regulamentação da Comunicação. Mas, se coloquem no nosso
lugar: se a comunicação for democratizada e, além disso, tivermos que responder
pelos nossos erros, como poderemos manter o nosso monopólio e garantir a nossa impunidade?
Após nossos sinceros
pedidos desculpas, gostaríamos de contar com a compreensão de todos. E,
sobretudo, agradecer a você, que compra nosso jornal e assiste a nossa
emissora. Graças à sua audiência, apoio e confiança, continuamos a nossa
trajetória vencedora, sempre em 1º lugar, formando a opinião pública e
construindo um Brasil melhor a cada dia.